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Estou há quase 20 dias, em companhia da esposa, no mais completo e absoluto isolamento. Minha mulher, que frequenta academia diariamente há décadas e é professora de educação física, não consegue ficar sem seus exercícios. Então, compensa a ausência das aulas da academia subindo e descendo pelas escadas os nove andares do nosso prédio todas as manhãs. Mas eu não me atrevo nem a sair no corredor.
Mas antes de seus exercícios físicos, minha mulher me faz companhia diante da televisão, bem cedo, quando sintonizamos diariamente o canal 194 da Net - Canal Canção Nova - onde assistimos a Santa Missa. E ficamos conectados ao grupo da família, pelo WhatsApp, pois nossos filhos, noras, genro e maioria dos netos também nos fazem companhia virtualmente nesta primeira hora da manhã dedicada à reflexão espiritual, onde todos nós buscamos forças para suportarmos o isolamento e a saudade que sentimos uns dos outros. E também pedimos pela saúde de todos e agradecemos pelas bênçãos. Pedimos muita proteção, sobretudo para nosso neto Tarso, aluno do quinto ano de Medicina da UFSM, voluntário desde o primeiro momento no HUSM e de nosso filho Pizarrinho, assistente social da prefeitura municipal de nossa cidade, integrante da Secretaria Municipal da Saúde, que está trabalhando com as pessoas abrigadas no Centro Desportivo Municipal.
No computador tenho dezenas de álbuns com centenas de fotos cada um, separados e organizados por assuntos. Mas eu tinha milhares de fotos impressas em casa, reunidas ao longo de 53 anos de casamento, numa época em que ainda não existia celular. Soltas, em dezenas de caixas de sapato e de camisa. Antes da entrada em isolamento comprei 30 álbuns com capacidade para 200 fotos cada. E coloquei mãos à obra. Pois já enchi os 30 álbuns e ainda ficaram sobrando fotos nas caixas! Vou ter de esperar o fim do isolamento ou dar um jeito de conseguir mais álbuns. Mas foi uma parte da minha vida que já organizei...
Tenho 220 álbuns de figurinhas de futebol. Todos de capa dura. São a minha paixão. Muitos eu tinha comprado, as figurinhas todas completas, mas não tinha encontrado tempo ainda para colar os cromos. Passei a faze-lo, em companhia da Vera, que também é apaixonada por futebol. Terminamos de colar mais de 600 figuras do álbum da FIFA, completamos a colagem do álbum da história do campeonato baiano e vamos começar a colar mais dois álbuns: campeonato espanhol e campeonato inglês. É outra maneira de passar o tempo na quarentena...
Fiz uma limpa nos meus arquivos de recortes. Assuntos que foram importantes na minha vida e hoje não são mais: lixo! Documentos que não interessam mais: lixo! Notícias sobre política e partidos: lixo! Cartas, polêmicas, intrigas, tudo que causou mágoa e dor: lixo! Desocupei várias gavetas de material que - a rigor - eram combustível apenas para rancor, remorso e náusea.
Nessas gavetas que ficaram vazias estou pensando em colocar uma Bíblia que guardo com muito carinho, que me foi presenteada pelo meu amigo padre Erno Schlindwein, meu professor da disciplina "Cartas de São Paulo" no Colégio Máximo Palotino. Lá está a dedicatória: "James! Que a palavra de Deus seja luz em seus caminhos todos os dias. Pe. Erno, 29.6.1998". Também estou pensando em guardar o "EU", do Augusto dos Anjos, que mandei encadernar, meu poeta predileto e cujo livro quase todo sei de memória. Talvez coloque algumas lembranças da minha saudosa e sempre amada vó Olina. A pastinha de couro de enfermeiro do meu falecido pai.
Enfim, assim vou levando o meu isolamento social. Na maior simplicidade possível. Com muita saudade dos filhos e netos. Saudade do papo no Salão Venito. Das apostas com meus bons amigos na lotérica da Galeria Roth. Do bate-papo e cafezinho gostoso do Ildo no "Café & Doce" no Calçadão. Do encontro com os leitores do Diário.
Gostaria de abraçar a todos para lhes desejar uma santa e feliz Páscoa. Deus é generoso. Isso tudo vai passar. Eu estarei humildemente - como faço todas as manhãs - rezando por todos vocês.